Novo acordo para nova América Latina

28/03/2011

Invocando o espírito libertário da história das Américas, o novo presidente americano convidou a região a unir-se em torno de objetivos comuns. A pedra angular seria a expansão da democracia, base para a construção do desenvolvimento institucional, da participação cidadã e da prosperidade econômica e social.
Nesse contexto, o recém-criado Banco Interamericano de Desenvolvimento surgia como uma plataforma ideal para pôr em marcha novos programas de educação, saúde e nutrição que atendessem à população mais vulnerável.
Sobre esses pilares, Kennedy propôs aprofundar a integração regional com a dinamização do comércio, a criação de um programa regional de segurança alimentar, a cooperação científica e cultural e a transferência de conhecimento por meio de intercâmbios universitários.
Seu discurso se encerrou naquele 13 de março de 1961 com um compromisso de fazer das Américas uma região de pessoas livres, unidas pelo objetivo de sociedades mais prósperas e justas, em que todos pudessem viver dignamente. Nascida na Guerra Fria, a Aliança para o Progresso recebeu muita atenção na época, mas a proposta foi definhando até o final dessa mesma década.
No entanto, seus ideais estimularam a transformação de nossa região. Hoje, reconhecendo suas diferenças ideológicas e a diversidade dos modelos políticos, a América Latina exibe democracias pujantes. A economia de mercado consolidou-se progressivamente, em um ambiente de maior qualidade institucional e melhores condições sociais.
Meio século mais tarde, chegou a hora de construir um novo acordo pelo progresso para uma nova América Latina, em que todas as nações contribuam com o melhor de sua experiência em favor do bem-estar coletivo. Neste momento, em vez de uma agenda liderada por uma única nação, é preciso que o continente inteiro chegue a um novo entendimento.
As oportunidades surgem de nossas próprias características e conquistas sociais. Nossa população de cerca de 590 milhões de pessoas tem em média 27 anos de idade - mais jovem que a população da Ásia, Europa e Estados Unidos. Pelo menos 64% de nossos cidadãos consideram-se parte de uma crescente classe média. Na última década, 40 milhões de pessoas saíram da pobreza. A expectativa de vida está em 74 anos, a cobertura de água potável é superior a 86%, nossos níveis de alfabetização aproximam-se de 92%, enquanto a mortalidade infantil reduziu-se à metade nas duas últimas décadas.
Essas mudanças são evidências dos efeitos da democracia, da abertura ordenada aos investimentos, de uma política social inclusiva, da ampliação de mercados para nossas exportações, da estabilidade macroeconômica, de um ambiente de negócios mais amistoso e de sistemas financeiros mais sólidos, entre outros fatores.
Além disso, a globalização nos apresenta realidades que, se bem aproveitadas, abrem-nos espaços para consolidar os êxitos alcançados. As economias emergentes têm um papel mais relevante no contexto internacional e os novos padrões de crescimento resultaram em uma reformulação dos fluxos de comércio e investimento em direção à América Latina. Nem todos os nossos países encontram-se na mesma situação; as oportunidades e desafios são maiores para uns do que para outros. Mas temos um potencial enorme e é nossa responsabilidade aproveitá-lo.
Esses avanços produzem uma nova e poderosa narrativa: uma região com mais confiança, mais expectativas e uma visão mais global. Essa é a região que o presidente Barack Obama encontra em sua viagem ao Brasil, Chile e El Salvador nos próximos dias. Uma região que aprendeu com suas experiências e que procura acelerar a sua marcha para um futuro melhor. Se agirmos agora e em conjunto, não há dúvida de que estaremos entrando na Década da América Latina.
A Cúpula das Américas, que será realizada no próximo ano em Cartagena das Índias, é uma oportunidade para gerarmos um novo acordo para o progresso continental.
Um acordo que estreite os laços comerciais, expanda a integração física e energética, promova a inclusão digital, erradique o analfabetismo e elimine as principais causas de mortalidade infantil. O hemisfério em seu conjunto deve estabelecer normas claras para a migração, estimular a inovação, reduzir os efeitos da mudança climática, melhorar a prevenção de desastres naturais e aumentar a cooperação contra o crime organizado, o terrorismo e o narcotráfico.
Enfrentar esses desafios não será fácil. Mas é necessário, e está ao nosso alcance. Juntos, podemos produzir uma época nova, que corresponda à nova região que estamos construindo.
Luis Alberto Moreno é presidente do Banco Interamericano de Desenvolvimento